ESMAVC Radio Station – Technicolor
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- Publication date
- 2019
- Topics
- Technicolor, Teresa Lozano, ESMAVC Radio Station
Programa Radiofónico de Teresa Lozano
A Radio Broadcasting by Teresa Lozano
Maria Amália Vaz de Carvalho High School
Oficina de Multimédia
Class of Multimedia
Prof. João Soares Santos
O projecto ESMAVC Radio Station consiste na criação de conteúdos áudio digitais que poderão ser escutados através da internet ou transmitidos por outros meios de comunicação. Esses conteúdos são temáticos, congregam textos, locução, sequências musicais, ruídos, efeitos sonoros e silêncio, devidamente organizados consoante a intenção dos alunos. Este material é elaborado na disciplina de Oficina de Multimédia e pode ter qualidades mais experimentalistas e ensaísticas ou atributos mais convencionais. Serão tratados temas da História e Estética da Música, do Cinema, da Literatura, das Artes de Cena ou Plásticas bem como outros assuntos relevantes de outras áreas do conhecimento que os alunos decidam explorar.
Em paralelo realizar-se-ão anúncios publicitários referindo-se a produtos ou serviços absurdos nos quais a montagem sonora final terá um teor cómico, poético ou crítico.
ESMAVC Radio Station goal is the creation of digital audio content that can be heard over the internet or transmitted by other media. These contents are themed, congregate text, locution, musical sequences, noise, sound effects and silence, organized according to the students' motivation. This material is prepared in the class of Multimedia and will have a more experimental and essayistic orientation or a more conventional approach. Themes cover History and Aesthetics of Music, Cinema, Literature, the Performing Arts, Painting, Sculpture, Architecture, as well as alternative issues relevant to other areas of knowledge that students decide to explore.
In parallel the class must create advertisements referring to absurd products or services where the final editing must have a humorous, poetic or critical feature.
A Radio Broadcasting by Teresa Lozano
Maria Amália Vaz de Carvalho High School
Oficina de Multimédia
Class of Multimedia
Prof. João Soares Santos
O projecto ESMAVC Radio Station consiste na criação de conteúdos áudio digitais que poderão ser escutados através da internet ou transmitidos por outros meios de comunicação. Esses conteúdos são temáticos, congregam textos, locução, sequências musicais, ruídos, efeitos sonoros e silêncio, devidamente organizados consoante a intenção dos alunos. Este material é elaborado na disciplina de Oficina de Multimédia e pode ter qualidades mais experimentalistas e ensaísticas ou atributos mais convencionais. Serão tratados temas da História e Estética da Música, do Cinema, da Literatura, das Artes de Cena ou Plásticas bem como outros assuntos relevantes de outras áreas do conhecimento que os alunos decidam explorar.
Em paralelo realizar-se-ão anúncios publicitários referindo-se a produtos ou serviços absurdos nos quais a montagem sonora final terá um teor cómico, poético ou crítico.
ESMAVC Radio Station goal is the creation of digital audio content that can be heard over the internet or transmitted by other media. These contents are themed, congregate text, locution, musical sequences, noise, sound effects and silence, organized according to the students' motivation. This material is prepared in the class of Multimedia and will have a more experimental and essayistic orientation or a more conventional approach. Themes cover History and Aesthetics of Music, Cinema, Literature, the Performing Arts, Painting, Sculpture, Architecture, as well as alternative issues relevant to other areas of knowledge that students decide to explore.
In parallel the class must create advertisements referring to absurd products or services where the final editing must have a humorous, poetic or critical feature.
- Addeddate
- 2019-03-09 10:21:13
- Identifier
- TechnicolorTeresaLozanoPart2EQ
- Scanner
- Internet Archive HTML5 Uploader 1.6.4
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Reviewer:
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March 9, 2019
Subject: Technicolor
Technicolor é um processo de cinema a cores, actualmente abandonado, cujo nome significa «desenvolvido por um laboratório da firma Technicolor». Esta firma é responsável por uma série de processos cinematográficos a cores, dos quais o primeiro data de 1915, seguido de versões aperfeiçoadas ao longo de várias décadas. Este foi o processo a cores mais utilizado em Hollywood entre 1922 e 1952.
Os primeiros exemplos de cor no cinema foram, desde 1896, a tintagem das películas a preto e branco de exploração comercial. Esta era inicialmente feita à mão, imagem por imagem ou por sequências de imagens. Depois, devido à popularidade do cinema a cores, o método passou a ser mecânico e industrial. Uma cópia era colorida fotograma a fotograma e esta servia de matriz para a aplicação ou mecânica dos colorantes, usando-se, neste último caso, escovas rotativas por rolos com tinta. As cópias podiam receber em série até seis ou sete cores diferentes. A coloração foi usada sob o nome de Pathécolor até à Primeira Guerra Mundial e, gradualmente a sua aplicação foi sendo menos frequente até desaparecer por volta de 1930. O filme tintado implicava um acréscimo de trabalho e, por isso, era mais caro.
Muitas pessoas reconhecem o Technicolor no filme «The Wizard of Oz», realizado por Victor Fleming em 1939. Mas a tecnologia de aplicação da cor já existia, desde os filmes pintados à mão como «Voyage à travers l’impossible», realizado por Georges Méliès em 1904, até ao primeiro filme em Kinemacolor, com registo e projecção de uma película a preto e branco por detrás de, alternadamente, filtros vermelhos e verdes, chamado «A Visit to The Seaside» e realizado por George Albert Smith em 1908.
O Chronochrome Gaumont ou Gaumont Color é um processo aparecido em 1913 no qual, uma câmara especial com três objectivas, tem, em cada uma, um filtro vermelho, verde e azul, registando, em simultâneo, três imagens justapostas. Na projecção, o aparelho projector era munido de três objectivas com filtros mas, a sobreposição das três sequências de imagens no ecrã, nem sempre era perfeita.
Em síntese, houve, no emprego pioneiro da cor no cinema, processos aditivos, com imagens separadas, com redes coloridas, ou com estampagem por pressão com finas caneluras cilíndricas na outra face da camada sensível da película a preto e branco.
Mas o Technicolor destacou-se. Três engenheiros, Herbert Kalmus, Daniel Frost Comstock e W. Burton Wescott fundaram a Technicolor Motion Picture Corporation em Boston, no ano de 1914, com o «Tech» da palavra «Technicolor» como referência ao Massachusetts Institute of Technology, onde Kalmus e Comstock estudaram e se conheceram.
Os processos de duas e de três fitas Technicolor revolucionaram a indústria cinematográfica e transformaram a aparência visual do cinema do século XX. Resistindo à feroz concorrência de vários outros pioneiros da indústria cinematográfica, o Technicolor cresceu para se tornar sinónimo de inovação nos filmes a cores.
A empresa Technicolor cresceu ao longo da década de 1920, quando os estúdios de Hollywood, gradualmente, começaram a explorar o uso de cores com inserções curtas nos filmes a preto-e-branco.
No primeiro processo, usaram-se apenas duas cores, o que significou que apenas uma parte limitada do espectro de cores poderia ser reproduzida. Muito usado nos anos 20, usava uma câmara com um prisma divisor e fazia uma síntese aditiva bicromática. Duas imagens eram expostas em simultâneo numa película a preto e branco. A captação e a projecção de imagens tinham de ser com o dobro da velocidade normal. Para a exibição era necessário um projector com duas aberturas (uma com um filtro vermelho e outra com um filtro verde), duas lentes e um prisma ajustável que alinhava as duas imagens no ecrã. O vermelho e verde foram escolhidos como cores componentes dos filtros de filmagem, uma vez que se queria dar prioridade a tons precisos de pele e de folhagem. Certas cores, como azuis, roxos e amarelos, não podiam ser reproduzidas correctamente mas, se as cores à frente da câmara fossem cuidadosamente controladas, resultados impressionantes poderiam ser obtidos.
O primeiro processo da empresa foi apresentado em 1917, com a longa-metragem de demonstração «The Gulf Between», realizado por Wray Physioc e hoje uma obra perdida. Nos 58 minutos originais, procurava destacar as virtudes do processo para a indústria cinematográfica e para o público.
Este processo funcionou em laboratório mas revelou-se muito complexo para uso comercial e o seu lançamento acabou por ser um fracasso. A projecção falhou repetidamente, produzindo distorção de cor na tela.
Apenas alguns fotogramas de «The Gulf Between», mostrando a estrela Grace Darmond, são hoje conhecidos.
Vários filmes totalmente coloridos foram feitos, mas a cor era cara e, de qualquer modo, a sua adopção permanecia limitada. Só com a chegada dos filmes sonoros, no final dos anos 20, a companhia Technicolor descolou. O público achou a combinação de cor, som e música irresistível e, em 1929, a Technicolor assinou um contrato com a Warner Brothers.
Depois de «The Gulf Between», firma Technicolor regressou ao laboratório para mais cinco anos de pesquisa. O resultado foi uma câmara totalmente recriada, um novo processo de impressão e uma nova longa-metragem de demonstração.
A nova câmara subtractiva de duas cores da Technicolor foi projectada por Joseph Arthur Ball, de 27 anos, em 1921. A câmara usava um prisma de divisão de feixe por trás das lentes, para dividir a luz em dois caminhos: metade era filtrada de vermelho e a outra metade de verde. Esses dois registos de cores eram então captados em película a preto e branco, um sobre o outro. Como esta técnica usava apenas duas separações de cores, era incapaz de mostrar azuis, roxos e amarelos com precisão mas, mais uma vez, resultados agradáveis podiam ser alcançados com uma coordenação cuidadosa de cores. Neste processo, alcunhado na época por Two-strip Technicolor, as cores estavam fisicamente presentes na cópia, não exigia um equipamento de projecção especial e a correcta visualização das duas imagens não dependia da habilidade do projeccionista.
Os fotogramas com filtro verde e com filtro vermelho capturados pela câmara eram impressos em rolos separados de película. A revelação da película originava tons próximos das cores complementares às dos filtros (vermelho - alaranjado para o filtro verde e azul cião – esverdeado para os filtros vermelhos). As duas fitas de película, menos espessas que as regulares, eram de seguida coladas uma na outra, costas com costas, por uma máquina especial de aderência, criando uma película com emulsões em ambos os lados para projecção. Cada lado dessa nova película, mais grossa, era posteriormente tingido da cor correspondente: o registo vermelho tingido de verde e o registo verde tingido de vermelho. Isto criou uma impressão colorida subtractiva porque os corantes removiam certas cores do feixe de luz branca do projector. Estas novas impressões cimentadas podiam ser agora exibidas em qualquer projector padrão e em qualquer lugar.
O primeiro filme filmado e lançado neste processo foi a longa-metragem «The Toll of the Sea», uma variante da intriga da ópera «Madama Butterfly» passada na China, realizado por Chester Franklin em 1922, com a actriz Sino - Americana Anna May Wong no papel principal.
A segunda longa-metragem a cores, pela Technicolor, foi «Wanderer of the Wasteland», realizado por Irvin Willat e estreado em 1924. Este Segundo processo foi também usado para sequências de cores em grandes filmes como «The Ten Commandments», realizado por Cecil B. DeMille em 1923, «The Phantom of the Opera», realizado por Rupert Julian em 1925, «Ben-Hur», realizado por Fred Niblo em 1925 e, integralmente, em «The Black Pirate», realizado por Albert Parker em 1926.
Embora os resultados obtidos com este segundo processo fossem elogiados e comercialmente bem-sucedidos, havia uma série de problemas técnicos inerentes. Estas imagens nos dois lados da película, como não estavam exactamente no mesmo plano, não estavam focadas ao mesmo tempo. O pior foi o problema da película inchar. O uso repetido das películas em projecção fazia com que estas tendessem a dobrar. Cada vez que se exibia uma película, os fotogramas aqueciam devido à intensa luz do projector, fazendo com que ela inchasse ligeiramente. Depois de esfriar, o inchaço diminuía mas não completamente. Descobriu-se que as películas coladas não só tinham tendência para entumecer mas, também podiam, de repente, desfocar. Por outro lado, o facto de terem camadas de imagens tornava-as mais vulneráveis a riscos os quais apareciam verdes ou vermelhos na tela.
Estes contratempos técnicos acabaram por prejudicar a reputação da Technicolor e a firma lutou para encontrar negócios nos anos que se seguiram.
Em 1928 surgiu o processo 3 de Technicolor, o qual eliminou a cópia de projecção baseada em duas películas coladas e substituiu-o por uma cópia criada por tintagem embebida. A câmara Technicolor deste processo era idêntica à do processo 2, registando dois fotogramas consecutivos na mesma película a preto e branco por detrás de filtros vermelhos e verdes.
Este método, por transferência de cor ou por embebição, foi em grande parte inventado por Daniel F. Comstock e permaneceu em uso contínuo durante quase cinquenta anos até meados da década de 1970.
No laboratório, os fotogramas do filtro vermelho eram impressos numa película de gelatina, especialmente preparada (chamada «película matriz») para criar uma filmagem vermelha e o resto dos fotogramas eram impressos numa segunda tira de película similar, para criar uma filmagem verde. Ao ser exposta, onde necessário, a uma luz ultravioleta a gelatina endurecia nessas zonas. As áreas não expostas à luz eram lavadas, deixando uma espécie de relevo de gelatina endurecida. As duas películas matriz eram submersas em banhos de tintagem com as suas cores complementares. A tira de registo vermelho ficava tingida de cião - verde e a de verde de alaranjado - vermelho. Quanto mais dura a gelatina, maior quantidade de tinta absorveria.
Durante a impressão final, as matrizes eram postas em contacto com uma tira de película emulsionada (conhecida como «película em branco») e a tinta era transferida das matrizes para a nova cópia. Um fixador era aplicado à branca para prevenir as tintas de «sangrar» depois de absorvidas. Este processo de transferência de tinta foi introduzido mais ou menos na época do som gravado na película. A emulsão da película em branco adaptou-se a uma película na qual se imprimia primeiro a banda sonora em preto e branco e depois se adicionava a tinta.
O primeiro filme feito com o processo 3 foi «The Viking», realizado por Roy William Neill em 1928, o qual tinha uma banda sonora sincronizada e efeitos sonoros. Seguiram-se «Redskin», realizado por Victor Schertzinger em 1929, com uma banda sonora sincronizada e «The Mysterious Island», realizado por Lucien Hubbard em 1929, parcialmente sonoro. Quase na totalidade, estes filmes foram rodados com este processo 3 mas incluíam partes a preto e branco. «Song of the Flame», realizado por Alan Crosland em 1930 foi o primeiro filme em Technicolor com uma sequência projectada num grande ecrã por um aparelho Vitascope que usava película de 65mm.
O processo por transferência de cor tornou-se um dos maiores legados da Technicolor. Nos Estados Unidos, um dos últimos filmes a usarem o método da transferência de cor foram «The Godfather Part II», realizado por Francis Ford Coppola em 1974.
Apesar da qualidade e custos relativamente baixos na sua produção, a Technicolor fez um enorme esforço para manter o processo em concorrência com a Eastmancolor da Kodak e outros processos rivais. A tecnologia de embebição da Technicolor é agora considerada obsoleta. O equipamento foi desinstalado, desmontado e disperso anos atrás e não pode ser reconstruído novamente, sem um enorme investimento. Quando comparadas com os processos de cores de outras empresas, como a Eastmancolor em que as cores das películas desvaneceram para rosa ou magenta ao longo do tempo, as tiragens em Technicolor preservaram a sua vivacidade durante períodos mais alargados. O processo de tiragem tinha uma grande qualidade na restituição de cores e uma grande estabilidade química, explicando assim a sua resistência. Por esta razão, os filmes em Technicolor são documentos valiosos daquilo que o público viu originalmente. Pode-se facilmente comparar essas tiragens com obras de arte originais em museus e galerias. Para realmente entender e apreciar a beleza desse processo, é precisa uma experiencia ao «vivo e a cores» ou uma cópia em DVD ou Blu-Ray feita a partir de uma cópia restaurada.
Depois de uma série de dificuldades técnicas e financeiras durante o início da década de 1930, a Technicolor recuperou com o seu novo processo de três cores.
O Technicolor tricromático apareceu em 1932 num filme de Walt Disney com matrizes estabelecidas a partir de três registos sucessivos de desenhos. A câmara Technicolor era pesada e a sensibilidade do processo era modesta: a película tinha menos de 10 ASA o que implicava uma iluminação muito forte. A tiragem das cópias exigia muito cuidado e uma precisão mecânica no limite do possível, quando se pretendia a impressão de três imagens coloridas, uma após outra, em sobreposição exacta.
O processo necessitava de uma câmara especial com a qual o registo das cores se efectuasse por três negativos a preto e branco. Faltava criar um sistema que registasse numa película as cores e que permitisse rodar indiferentemente a preto e branco ou a cores com uma câmara. Por meados dos anos 30 com o Kodachrome e o Agfacolor surgiram os primeiros processos a cores monopack ou com três camadas sensíveis sobrepostas, respectivamente sensíveis ao verde, ao azul e vermelho, acamadas sobre o mesmo suporte. O termo monopack designa o processo graças ao qual desfila na câmara um só filme, por oposição aos processos bipack ou tripack onde desfilam dois ou três filmes sobrepostos, seja da mesma cor, seja em cores distintas. O Technicolor tricromático era um processo tripack. Um bloco único com três emulsões sobrepostas.
Em 1931, a Grande Depressão afectou a indústria cinematográfica e esta teve de fazer ajustes económicos. A produção a cores diminuiu drasticamente em 1932, quando Burton Wescott e Joseph A. Ball completaram o trabalho de desenvolver uma nova câmara a três cores. A Technicolor podia agora prometer aos estúdios uma paleta completa de cores, distinguindo-se assim do espectro limitado ao vermelho e verde das películas anteriores. A nova câmara expunha simultaneamente três tiras de película a preto e branco. A luz que passava através da lente dividia-se num prisma em dois raios de luz. Um passava através de um filtro verde, que bloqueava a luz vermelha e azul e formava uma imagem numa tira de película pancromática (ou seja, sensível a todo o espectro luminoso). O outro passava através de um filtro magenta que bloqueava a luz verde e eram impressos num bipack de duas películas com os lados emulsionados pressionados entre si. A película frontal era sensível apenas à luz azul e só filmava a parte azul do espectro. A sua emulsão tinha uma capa superficial de tinta laranja avermelhada que evitava que a luz azul chegasse à película pancromática por baixo, que assim só registava o lado vermelho da luz. Os três negativos resultantes eram usados para produzir três matrizes de impressão que, por seu turno, eram utilizadas para imprimir imagens sobrepostas em cião, magenta e amarelo numa só tira de película, criando uma cópia de projecção com todas as cores.
Para amortecer o som, a câmara foi trancada numa enorme caixa conhecida como airship, feita de metal com material de isolamento acústico dentro. A airship tornou a câmara muito difícil de controlar, o que limitou sua mobilidade e tornou os cineastas muitíssimo mais criativos na sua produção cinematográfica.
Apoiada por importantes parcerias como a Walt Disney Productions e a Selznick International Pictures, a cinematografia a cores finalmente amadureceu, passando de novidade revolucionária a padrão da indústria. O final da década de 1930 marcou um ponto de viragem para o Technicolor, enquanto outros grandes estúdios começaram a adoptar o processo após o sucesso comercial de filmes como «Snow White and the Seven Dwarfs», produzido por Walt Disney em 1937 e «The Adventures of Robin Hood», realizado por Michael Curtiz e William Keighley em 1938. O ano de 1939 foi o mais esplêndido para a Technicolor, com clássicos como «Gone With the Wind», realizado por Victor Fleming em 1939 - a primeira produção colorida a ganhar o Óscar de Melhor Filme - e «The Wizard of Oz», realizado por Victor Fleming em 1939, provando que a Technicolor e o seu processo de três cores, cada vez mais popular, estavam para ficar.
Ao filmar em Technicolor, tinha de se ter em consideração não só a câmara, mas um pacote completo de recursos que incluía a câmara, uma equipa de filmagem com três assistentes, o filme, o processamento e um consultor de cor Technicolor para aconselhar acerca das tonalidades mais apropriadas para a maquilhagem, figurinos e cenografia. Este trabalho de «color supervisor», como era inicialmente conhecido, foi fundado no final da década de 1920 por Natalie Kalmus, ex-esposa de Herbert Kalmus, a qual moldou a estética dos filmes coloridos. Os realizadores redesenharam seus cenários e filmes baseados nas exigências visuais do Technicolor. Consultores de cor e directores ajustaram a paleta do filme de forma a ajustar os corantes cião, magenta e amarelo. Pela sua notável conquista ao inventar a câmara de três cores, J.A. Ball ganhou um Óscar especial da Academia em 1938 pela sua contribuição para o avanço da cor na fotografia de filme.
Walt Disney usou o processo tricromático no filme «Flowers and Trees» da série «Silly Symphonies», realizado por Burt Gillett, em 1932. Vendo o potencial da Technicolor colorida, a Disney negociou um contrato exclusivo para o uso do processo que se estendeu até Setembro de 1935. Outros produtores de animação, como os estúdios de Max Fleischer e de Ub Iwerks , ficaram de fora – contentando-se com os sistemas Technicolor bicromáticos ou com um processo concorrente como o Cinecolor, inventado em 1932 por William Thomas Crespinel.
«Flowers and Trees» foi um êxito tanto para o público quanto para os críticos e ganhou o primeiro Óscar de Curta-Metragem. Todas as subsequentes «Silly Symphonies» de 1933 em diante, foram registadas com o mesmo processo. Uma destas curtas-metragens de «Silly Symphonies», intitulada «Three Little Pigs», realizado por Burt Gillett em 1933, gerou uma resposta tão positiva da audiência que ofuscou todas as outras. Hollywood estava novamente ao rubro com o cinema colorido.
No início dos anos 40, todos os principais estúdios de Hollywood recorriam ao «pacote Technicolor» e quase todos os anos se estabelecia um novo recorde para a produção de imagens em movimento coloridas. Ao longo da década, os cineastas aprenderam a usar a cor de forma simbólica e expressiva, e experimentaram escolhas de cores e justaposições para explorar temas narrativos complexos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Technicolor manteve uma forte relação com os militares americanos, enviando dezenas de filmes para o exterior para entreter as tropas. Por seu turno, vários filmes da época apoiaram o esforço de guerra, incluindo «This Is the Army», realizado por Michael Curtiz em 1943 e «An American Romance», realizado por King Vidor em 1944 e contaram com o Technicolor para impulsionar a moral e o patriotismo. Os mais populares, no entanto, foram os musicais da Twentieth Century Fox e da MGM, incluindo «The Gang’s All Here», o primeiro filme de Busby Berkeley para a Fox, de 1943, com Alice Faye, Carmen Miranda e Benny Goodman e a parada de estrelas em «Ziegfeld Follies», de 1945.
À medida que a concorrência com outros processos de cor aumentava, a Technicolor lutava para manter o seu mais caro sistema fotográfico de três cores. Em 1954, a maioria dos filmes coloridos feitos nos Estados Unidos era filmada em Eastmancolor ou Anscocolor, embora muitos ainda fossem impressos em Technicolor.
A indústria cinematográfica passou por uma série de rápidas mudanças tecnológicas no início dos anos 50. Novos stocks de filme colorido, como o Eastmancolor e Anscocolor, eram mais baratos e mais fáceis de usar do que o Technicolor e novos sistemas de grande ecrã, como o Cinerama e o CinemaScope e até o aperfeiçoado sistema estereoscópico ou 3D a cores, revolucionavam a forma como os filmes eram filmados e exibidos. A volumosa câmara Technicolor tornou-se incompatível com esses processos e ficou extinta no final de 1954.
Para competir com a widescreen mania, a Technicolor lançou em 1956, para competir com o CinemaScope, o Technirama com a co-produção Italo-Americana, «The Monte Carlo Story», realizado por Samuel A. Taylor. Este processo tinha como base diferentes princípios usados no CinemaScope e no VistaVision.
Por meados da década de 1950, mais de metade dos filmes de Hollywood eram filmados a cores e os dez filmes com maior receita de bilheteira da década puderam ostentar o seu «Color by Technicolor». Ao longo da década, os realizadores continuaram a apresentar obras cinematográficas de grande orçamento como «The Greatest Show on Earth», realizado por Cecil B. DeMille em 1952 que recebeu o Óscar de Melhor Filme nesse ano.
Outros exemplos notáveis de filmes em Technicolor incluem «The Vikings», realizado por Richard Fleischer em 1958, «Big Country», realizado por William Wyler no mesmo ano, «Spartacus», realizado por Stanley Kubrick em 1960, «El Cid», realizado por Anthony Mann em 1961 ou «Il Gattopardo», realizado por Luchino Visconti em 1963. Filmes musicais e comédias adoptaram o processo, incluindo, nos anos 60, filmes como «The Music Man», realizado por Morton DaCosta em 1962 ou «The Pink Panther», realizado por Blake Edwards em 1963.
Tentando atrair para as salas de cinema um público que ficava em casa a ver televisão, os estúdios nos anos 50 aventuraram-se noutros formatos como o Cinerama, o VistaVision, o Todd-AO, Ultra Panavision 70 ou o Technirama, inventado pela Technicolor.
Em 1959, foi lançado o Super Tecnirama 70 para aproveitar o aumento da resolução oferecida pelas impressões de 70mm. Os filmes continuaram a ser gravados com um negativo de 35 mm e depois impressos opticamente em película de 70 mm. O filme de animação «Sleeping Beauty» produzido por Walt Disney em 1959 e o épico histórico «Solomon and Sheba», realizado por King Vidor no mesmo ano estão entre os primeiros títulos lançados desta forma.
Durante os anos 80 e 90, a Technicolor continuou a ser um negócio de grande sucesso, tanto para a produção de filmes internacionais quanto para a duplicação de vídeos domésticos. Em 1982 a empresa foi adquirida pela MacAndrews & Forbes por 100 milhões de dólares e foi comprada por 780 milhões em 1988 pela Carlton Communications. Adquiriu depois a Consolidated Film Industries em 2000 e, desde 2001, a Technicolor é propriedade da empresa francesa de electrónica Thomson que hoje é líder mundial no sector dos média e entretenimento, fornecendo serviços digitais, DVD e Blu-Ray, duplicação, efeitos visuais, restauração e distribuição digital.
Teresa Lozano
Subject: Technicolor
Technicolor é um processo de cinema a cores, actualmente abandonado, cujo nome significa «desenvolvido por um laboratório da firma Technicolor». Esta firma é responsável por uma série de processos cinematográficos a cores, dos quais o primeiro data de 1915, seguido de versões aperfeiçoadas ao longo de várias décadas. Este foi o processo a cores mais utilizado em Hollywood entre 1922 e 1952.
Os primeiros exemplos de cor no cinema foram, desde 1896, a tintagem das películas a preto e branco de exploração comercial. Esta era inicialmente feita à mão, imagem por imagem ou por sequências de imagens. Depois, devido à popularidade do cinema a cores, o método passou a ser mecânico e industrial. Uma cópia era colorida fotograma a fotograma e esta servia de matriz para a aplicação ou mecânica dos colorantes, usando-se, neste último caso, escovas rotativas por rolos com tinta. As cópias podiam receber em série até seis ou sete cores diferentes. A coloração foi usada sob o nome de Pathécolor até à Primeira Guerra Mundial e, gradualmente a sua aplicação foi sendo menos frequente até desaparecer por volta de 1930. O filme tintado implicava um acréscimo de trabalho e, por isso, era mais caro.
Muitas pessoas reconhecem o Technicolor no filme «The Wizard of Oz», realizado por Victor Fleming em 1939. Mas a tecnologia de aplicação da cor já existia, desde os filmes pintados à mão como «Voyage à travers l’impossible», realizado por Georges Méliès em 1904, até ao primeiro filme em Kinemacolor, com registo e projecção de uma película a preto e branco por detrás de, alternadamente, filtros vermelhos e verdes, chamado «A Visit to The Seaside» e realizado por George Albert Smith em 1908.
O Chronochrome Gaumont ou Gaumont Color é um processo aparecido em 1913 no qual, uma câmara especial com três objectivas, tem, em cada uma, um filtro vermelho, verde e azul, registando, em simultâneo, três imagens justapostas. Na projecção, o aparelho projector era munido de três objectivas com filtros mas, a sobreposição das três sequências de imagens no ecrã, nem sempre era perfeita.
Em síntese, houve, no emprego pioneiro da cor no cinema, processos aditivos, com imagens separadas, com redes coloridas, ou com estampagem por pressão com finas caneluras cilíndricas na outra face da camada sensível da película a preto e branco.
Mas o Technicolor destacou-se. Três engenheiros, Herbert Kalmus, Daniel Frost Comstock e W. Burton Wescott fundaram a Technicolor Motion Picture Corporation em Boston, no ano de 1914, com o «Tech» da palavra «Technicolor» como referência ao Massachusetts Institute of Technology, onde Kalmus e Comstock estudaram e se conheceram.
Os processos de duas e de três fitas Technicolor revolucionaram a indústria cinematográfica e transformaram a aparência visual do cinema do século XX. Resistindo à feroz concorrência de vários outros pioneiros da indústria cinematográfica, o Technicolor cresceu para se tornar sinónimo de inovação nos filmes a cores.
A empresa Technicolor cresceu ao longo da década de 1920, quando os estúdios de Hollywood, gradualmente, começaram a explorar o uso de cores com inserções curtas nos filmes a preto-e-branco.
No primeiro processo, usaram-se apenas duas cores, o que significou que apenas uma parte limitada do espectro de cores poderia ser reproduzida. Muito usado nos anos 20, usava uma câmara com um prisma divisor e fazia uma síntese aditiva bicromática. Duas imagens eram expostas em simultâneo numa película a preto e branco. A captação e a projecção de imagens tinham de ser com o dobro da velocidade normal. Para a exibição era necessário um projector com duas aberturas (uma com um filtro vermelho e outra com um filtro verde), duas lentes e um prisma ajustável que alinhava as duas imagens no ecrã. O vermelho e verde foram escolhidos como cores componentes dos filtros de filmagem, uma vez que se queria dar prioridade a tons precisos de pele e de folhagem. Certas cores, como azuis, roxos e amarelos, não podiam ser reproduzidas correctamente mas, se as cores à frente da câmara fossem cuidadosamente controladas, resultados impressionantes poderiam ser obtidos.
O primeiro processo da empresa foi apresentado em 1917, com a longa-metragem de demonstração «The Gulf Between», realizado por Wray Physioc e hoje uma obra perdida. Nos 58 minutos originais, procurava destacar as virtudes do processo para a indústria cinematográfica e para o público.
Este processo funcionou em laboratório mas revelou-se muito complexo para uso comercial e o seu lançamento acabou por ser um fracasso. A projecção falhou repetidamente, produzindo distorção de cor na tela.
Apenas alguns fotogramas de «The Gulf Between», mostrando a estrela Grace Darmond, são hoje conhecidos.
Vários filmes totalmente coloridos foram feitos, mas a cor era cara e, de qualquer modo, a sua adopção permanecia limitada. Só com a chegada dos filmes sonoros, no final dos anos 20, a companhia Technicolor descolou. O público achou a combinação de cor, som e música irresistível e, em 1929, a Technicolor assinou um contrato com a Warner Brothers.
Depois de «The Gulf Between», firma Technicolor regressou ao laboratório para mais cinco anos de pesquisa. O resultado foi uma câmara totalmente recriada, um novo processo de impressão e uma nova longa-metragem de demonstração.
A nova câmara subtractiva de duas cores da Technicolor foi projectada por Joseph Arthur Ball, de 27 anos, em 1921. A câmara usava um prisma de divisão de feixe por trás das lentes, para dividir a luz em dois caminhos: metade era filtrada de vermelho e a outra metade de verde. Esses dois registos de cores eram então captados em película a preto e branco, um sobre o outro. Como esta técnica usava apenas duas separações de cores, era incapaz de mostrar azuis, roxos e amarelos com precisão mas, mais uma vez, resultados agradáveis podiam ser alcançados com uma coordenação cuidadosa de cores. Neste processo, alcunhado na época por Two-strip Technicolor, as cores estavam fisicamente presentes na cópia, não exigia um equipamento de projecção especial e a correcta visualização das duas imagens não dependia da habilidade do projeccionista.
Os fotogramas com filtro verde e com filtro vermelho capturados pela câmara eram impressos em rolos separados de película. A revelação da película originava tons próximos das cores complementares às dos filtros (vermelho - alaranjado para o filtro verde e azul cião – esverdeado para os filtros vermelhos). As duas fitas de película, menos espessas que as regulares, eram de seguida coladas uma na outra, costas com costas, por uma máquina especial de aderência, criando uma película com emulsões em ambos os lados para projecção. Cada lado dessa nova película, mais grossa, era posteriormente tingido da cor correspondente: o registo vermelho tingido de verde e o registo verde tingido de vermelho. Isto criou uma impressão colorida subtractiva porque os corantes removiam certas cores do feixe de luz branca do projector. Estas novas impressões cimentadas podiam ser agora exibidas em qualquer projector padrão e em qualquer lugar.
O primeiro filme filmado e lançado neste processo foi a longa-metragem «The Toll of the Sea», uma variante da intriga da ópera «Madama Butterfly» passada na China, realizado por Chester Franklin em 1922, com a actriz Sino - Americana Anna May Wong no papel principal.
A segunda longa-metragem a cores, pela Technicolor, foi «Wanderer of the Wasteland», realizado por Irvin Willat e estreado em 1924. Este Segundo processo foi também usado para sequências de cores em grandes filmes como «The Ten Commandments», realizado por Cecil B. DeMille em 1923, «The Phantom of the Opera», realizado por Rupert Julian em 1925, «Ben-Hur», realizado por Fred Niblo em 1925 e, integralmente, em «The Black Pirate», realizado por Albert Parker em 1926.
Embora os resultados obtidos com este segundo processo fossem elogiados e comercialmente bem-sucedidos, havia uma série de problemas técnicos inerentes. Estas imagens nos dois lados da película, como não estavam exactamente no mesmo plano, não estavam focadas ao mesmo tempo. O pior foi o problema da película inchar. O uso repetido das películas em projecção fazia com que estas tendessem a dobrar. Cada vez que se exibia uma película, os fotogramas aqueciam devido à intensa luz do projector, fazendo com que ela inchasse ligeiramente. Depois de esfriar, o inchaço diminuía mas não completamente. Descobriu-se que as películas coladas não só tinham tendência para entumecer mas, também podiam, de repente, desfocar. Por outro lado, o facto de terem camadas de imagens tornava-as mais vulneráveis a riscos os quais apareciam verdes ou vermelhos na tela.
Estes contratempos técnicos acabaram por prejudicar a reputação da Technicolor e a firma lutou para encontrar negócios nos anos que se seguiram.
Em 1928 surgiu o processo 3 de Technicolor, o qual eliminou a cópia de projecção baseada em duas películas coladas e substituiu-o por uma cópia criada por tintagem embebida. A câmara Technicolor deste processo era idêntica à do processo 2, registando dois fotogramas consecutivos na mesma película a preto e branco por detrás de filtros vermelhos e verdes.
Este método, por transferência de cor ou por embebição, foi em grande parte inventado por Daniel F. Comstock e permaneceu em uso contínuo durante quase cinquenta anos até meados da década de 1970.
No laboratório, os fotogramas do filtro vermelho eram impressos numa película de gelatina, especialmente preparada (chamada «película matriz») para criar uma filmagem vermelha e o resto dos fotogramas eram impressos numa segunda tira de película similar, para criar uma filmagem verde. Ao ser exposta, onde necessário, a uma luz ultravioleta a gelatina endurecia nessas zonas. As áreas não expostas à luz eram lavadas, deixando uma espécie de relevo de gelatina endurecida. As duas películas matriz eram submersas em banhos de tintagem com as suas cores complementares. A tira de registo vermelho ficava tingida de cião - verde e a de verde de alaranjado - vermelho. Quanto mais dura a gelatina, maior quantidade de tinta absorveria.
Durante a impressão final, as matrizes eram postas em contacto com uma tira de película emulsionada (conhecida como «película em branco») e a tinta era transferida das matrizes para a nova cópia. Um fixador era aplicado à branca para prevenir as tintas de «sangrar» depois de absorvidas. Este processo de transferência de tinta foi introduzido mais ou menos na época do som gravado na película. A emulsão da película em branco adaptou-se a uma película na qual se imprimia primeiro a banda sonora em preto e branco e depois se adicionava a tinta.
O primeiro filme feito com o processo 3 foi «The Viking», realizado por Roy William Neill em 1928, o qual tinha uma banda sonora sincronizada e efeitos sonoros. Seguiram-se «Redskin», realizado por Victor Schertzinger em 1929, com uma banda sonora sincronizada e «The Mysterious Island», realizado por Lucien Hubbard em 1929, parcialmente sonoro. Quase na totalidade, estes filmes foram rodados com este processo 3 mas incluíam partes a preto e branco. «Song of the Flame», realizado por Alan Crosland em 1930 foi o primeiro filme em Technicolor com uma sequência projectada num grande ecrã por um aparelho Vitascope que usava película de 65mm.
O processo por transferência de cor tornou-se um dos maiores legados da Technicolor. Nos Estados Unidos, um dos últimos filmes a usarem o método da transferência de cor foram «The Godfather Part II», realizado por Francis Ford Coppola em 1974.
Apesar da qualidade e custos relativamente baixos na sua produção, a Technicolor fez um enorme esforço para manter o processo em concorrência com a Eastmancolor da Kodak e outros processos rivais. A tecnologia de embebição da Technicolor é agora considerada obsoleta. O equipamento foi desinstalado, desmontado e disperso anos atrás e não pode ser reconstruído novamente, sem um enorme investimento. Quando comparadas com os processos de cores de outras empresas, como a Eastmancolor em que as cores das películas desvaneceram para rosa ou magenta ao longo do tempo, as tiragens em Technicolor preservaram a sua vivacidade durante períodos mais alargados. O processo de tiragem tinha uma grande qualidade na restituição de cores e uma grande estabilidade química, explicando assim a sua resistência. Por esta razão, os filmes em Technicolor são documentos valiosos daquilo que o público viu originalmente. Pode-se facilmente comparar essas tiragens com obras de arte originais em museus e galerias. Para realmente entender e apreciar a beleza desse processo, é precisa uma experiencia ao «vivo e a cores» ou uma cópia em DVD ou Blu-Ray feita a partir de uma cópia restaurada.
Depois de uma série de dificuldades técnicas e financeiras durante o início da década de 1930, a Technicolor recuperou com o seu novo processo de três cores.
O Technicolor tricromático apareceu em 1932 num filme de Walt Disney com matrizes estabelecidas a partir de três registos sucessivos de desenhos. A câmara Technicolor era pesada e a sensibilidade do processo era modesta: a película tinha menos de 10 ASA o que implicava uma iluminação muito forte. A tiragem das cópias exigia muito cuidado e uma precisão mecânica no limite do possível, quando se pretendia a impressão de três imagens coloridas, uma após outra, em sobreposição exacta.
O processo necessitava de uma câmara especial com a qual o registo das cores se efectuasse por três negativos a preto e branco. Faltava criar um sistema que registasse numa película as cores e que permitisse rodar indiferentemente a preto e branco ou a cores com uma câmara. Por meados dos anos 30 com o Kodachrome e o Agfacolor surgiram os primeiros processos a cores monopack ou com três camadas sensíveis sobrepostas, respectivamente sensíveis ao verde, ao azul e vermelho, acamadas sobre o mesmo suporte. O termo monopack designa o processo graças ao qual desfila na câmara um só filme, por oposição aos processos bipack ou tripack onde desfilam dois ou três filmes sobrepostos, seja da mesma cor, seja em cores distintas. O Technicolor tricromático era um processo tripack. Um bloco único com três emulsões sobrepostas.
Em 1931, a Grande Depressão afectou a indústria cinematográfica e esta teve de fazer ajustes económicos. A produção a cores diminuiu drasticamente em 1932, quando Burton Wescott e Joseph A. Ball completaram o trabalho de desenvolver uma nova câmara a três cores. A Technicolor podia agora prometer aos estúdios uma paleta completa de cores, distinguindo-se assim do espectro limitado ao vermelho e verde das películas anteriores. A nova câmara expunha simultaneamente três tiras de película a preto e branco. A luz que passava através da lente dividia-se num prisma em dois raios de luz. Um passava através de um filtro verde, que bloqueava a luz vermelha e azul e formava uma imagem numa tira de película pancromática (ou seja, sensível a todo o espectro luminoso). O outro passava através de um filtro magenta que bloqueava a luz verde e eram impressos num bipack de duas películas com os lados emulsionados pressionados entre si. A película frontal era sensível apenas à luz azul e só filmava a parte azul do espectro. A sua emulsão tinha uma capa superficial de tinta laranja avermelhada que evitava que a luz azul chegasse à película pancromática por baixo, que assim só registava o lado vermelho da luz. Os três negativos resultantes eram usados para produzir três matrizes de impressão que, por seu turno, eram utilizadas para imprimir imagens sobrepostas em cião, magenta e amarelo numa só tira de película, criando uma cópia de projecção com todas as cores.
Para amortecer o som, a câmara foi trancada numa enorme caixa conhecida como airship, feita de metal com material de isolamento acústico dentro. A airship tornou a câmara muito difícil de controlar, o que limitou sua mobilidade e tornou os cineastas muitíssimo mais criativos na sua produção cinematográfica.
Apoiada por importantes parcerias como a Walt Disney Productions e a Selznick International Pictures, a cinematografia a cores finalmente amadureceu, passando de novidade revolucionária a padrão da indústria. O final da década de 1930 marcou um ponto de viragem para o Technicolor, enquanto outros grandes estúdios começaram a adoptar o processo após o sucesso comercial de filmes como «Snow White and the Seven Dwarfs», produzido por Walt Disney em 1937 e «The Adventures of Robin Hood», realizado por Michael Curtiz e William Keighley em 1938. O ano de 1939 foi o mais esplêndido para a Technicolor, com clássicos como «Gone With the Wind», realizado por Victor Fleming em 1939 - a primeira produção colorida a ganhar o Óscar de Melhor Filme - e «The Wizard of Oz», realizado por Victor Fleming em 1939, provando que a Technicolor e o seu processo de três cores, cada vez mais popular, estavam para ficar.
Ao filmar em Technicolor, tinha de se ter em consideração não só a câmara, mas um pacote completo de recursos que incluía a câmara, uma equipa de filmagem com três assistentes, o filme, o processamento e um consultor de cor Technicolor para aconselhar acerca das tonalidades mais apropriadas para a maquilhagem, figurinos e cenografia. Este trabalho de «color supervisor», como era inicialmente conhecido, foi fundado no final da década de 1920 por Natalie Kalmus, ex-esposa de Herbert Kalmus, a qual moldou a estética dos filmes coloridos. Os realizadores redesenharam seus cenários e filmes baseados nas exigências visuais do Technicolor. Consultores de cor e directores ajustaram a paleta do filme de forma a ajustar os corantes cião, magenta e amarelo. Pela sua notável conquista ao inventar a câmara de três cores, J.A. Ball ganhou um Óscar especial da Academia em 1938 pela sua contribuição para o avanço da cor na fotografia de filme.
Walt Disney usou o processo tricromático no filme «Flowers and Trees» da série «Silly Symphonies», realizado por Burt Gillett, em 1932. Vendo o potencial da Technicolor colorida, a Disney negociou um contrato exclusivo para o uso do processo que se estendeu até Setembro de 1935. Outros produtores de animação, como os estúdios de Max Fleischer e de Ub Iwerks , ficaram de fora – contentando-se com os sistemas Technicolor bicromáticos ou com um processo concorrente como o Cinecolor, inventado em 1932 por William Thomas Crespinel.
«Flowers and Trees» foi um êxito tanto para o público quanto para os críticos e ganhou o primeiro Óscar de Curta-Metragem. Todas as subsequentes «Silly Symphonies» de 1933 em diante, foram registadas com o mesmo processo. Uma destas curtas-metragens de «Silly Symphonies», intitulada «Three Little Pigs», realizado por Burt Gillett em 1933, gerou uma resposta tão positiva da audiência que ofuscou todas as outras. Hollywood estava novamente ao rubro com o cinema colorido.
No início dos anos 40, todos os principais estúdios de Hollywood recorriam ao «pacote Technicolor» e quase todos os anos se estabelecia um novo recorde para a produção de imagens em movimento coloridas. Ao longo da década, os cineastas aprenderam a usar a cor de forma simbólica e expressiva, e experimentaram escolhas de cores e justaposições para explorar temas narrativos complexos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Technicolor manteve uma forte relação com os militares americanos, enviando dezenas de filmes para o exterior para entreter as tropas. Por seu turno, vários filmes da época apoiaram o esforço de guerra, incluindo «This Is the Army», realizado por Michael Curtiz em 1943 e «An American Romance», realizado por King Vidor em 1944 e contaram com o Technicolor para impulsionar a moral e o patriotismo. Os mais populares, no entanto, foram os musicais da Twentieth Century Fox e da MGM, incluindo «The Gang’s All Here», o primeiro filme de Busby Berkeley para a Fox, de 1943, com Alice Faye, Carmen Miranda e Benny Goodman e a parada de estrelas em «Ziegfeld Follies», de 1945.
À medida que a concorrência com outros processos de cor aumentava, a Technicolor lutava para manter o seu mais caro sistema fotográfico de três cores. Em 1954, a maioria dos filmes coloridos feitos nos Estados Unidos era filmada em Eastmancolor ou Anscocolor, embora muitos ainda fossem impressos em Technicolor.
A indústria cinematográfica passou por uma série de rápidas mudanças tecnológicas no início dos anos 50. Novos stocks de filme colorido, como o Eastmancolor e Anscocolor, eram mais baratos e mais fáceis de usar do que o Technicolor e novos sistemas de grande ecrã, como o Cinerama e o CinemaScope e até o aperfeiçoado sistema estereoscópico ou 3D a cores, revolucionavam a forma como os filmes eram filmados e exibidos. A volumosa câmara Technicolor tornou-se incompatível com esses processos e ficou extinta no final de 1954.
Para competir com a widescreen mania, a Technicolor lançou em 1956, para competir com o CinemaScope, o Technirama com a co-produção Italo-Americana, «The Monte Carlo Story», realizado por Samuel A. Taylor. Este processo tinha como base diferentes princípios usados no CinemaScope e no VistaVision.
Por meados da década de 1950, mais de metade dos filmes de Hollywood eram filmados a cores e os dez filmes com maior receita de bilheteira da década puderam ostentar o seu «Color by Technicolor». Ao longo da década, os realizadores continuaram a apresentar obras cinematográficas de grande orçamento como «The Greatest Show on Earth», realizado por Cecil B. DeMille em 1952 que recebeu o Óscar de Melhor Filme nesse ano.
Outros exemplos notáveis de filmes em Technicolor incluem «The Vikings», realizado por Richard Fleischer em 1958, «Big Country», realizado por William Wyler no mesmo ano, «Spartacus», realizado por Stanley Kubrick em 1960, «El Cid», realizado por Anthony Mann em 1961 ou «Il Gattopardo», realizado por Luchino Visconti em 1963. Filmes musicais e comédias adoptaram o processo, incluindo, nos anos 60, filmes como «The Music Man», realizado por Morton DaCosta em 1962 ou «The Pink Panther», realizado por Blake Edwards em 1963.
Tentando atrair para as salas de cinema um público que ficava em casa a ver televisão, os estúdios nos anos 50 aventuraram-se noutros formatos como o Cinerama, o VistaVision, o Todd-AO, Ultra Panavision 70 ou o Technirama, inventado pela Technicolor.
Em 1959, foi lançado o Super Tecnirama 70 para aproveitar o aumento da resolução oferecida pelas impressões de 70mm. Os filmes continuaram a ser gravados com um negativo de 35 mm e depois impressos opticamente em película de 70 mm. O filme de animação «Sleeping Beauty» produzido por Walt Disney em 1959 e o épico histórico «Solomon and Sheba», realizado por King Vidor no mesmo ano estão entre os primeiros títulos lançados desta forma.
Durante os anos 80 e 90, a Technicolor continuou a ser um negócio de grande sucesso, tanto para a produção de filmes internacionais quanto para a duplicação de vídeos domésticos. Em 1982 a empresa foi adquirida pela MacAndrews & Forbes por 100 milhões de dólares e foi comprada por 780 milhões em 1988 pela Carlton Communications. Adquiriu depois a Consolidated Film Industries em 2000 e, desde 2001, a Technicolor é propriedade da empresa francesa de electrónica Thomson que hoje é líder mundial no sector dos média e entretenimento, fornecendo serviços digitais, DVD e Blu-Ray, duplicação, efeitos visuais, restauração e distribuição digital.
Teresa Lozano
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